Humorista Oscar Pardini fingiu ser dono do SBT em trilhas da Copa do Brasil.
O SBT anunciou a compra da Libertadores e animou quem gostava das transmissões de futebol da emissora nos anos 90. Durante os jogos, Silvio Santos cantava a música do time que marcava um gol. Quem lembra? Para falar bem a verdade, a voz não era do AP.
Sem avisar ninguém, o SBT chamou um humorista para fingir ser Silvio Santos nas marchinhas de Carnaval que embalavam as partidas da Copa do Brasil de 1995, transmitida com exclusividade pela emissora. O torcedor pensava que era o apresentador quem falava com animação o nome dos clubes, porém o "dono do Baú" não pôde gravar a trilha sonora por um problema de saúde.
Para suprir a ausência do patrão, o SBT decidiu escalar secretamente o humorista Oscar Pardini, que na época já era famoso como imitador. Integrante do grupo Café com Bobagem, ele topou simular a voz de Silvio nas marchinhas dos gols, que começavam assim: "Ê, lê lê ô...". Relembre a trilha no primeiro jogo da final da Copa do Brasil de 1995, entre Corinthians e Grêmio:
A decisão da Copa do Brasil daquele ano, vencida pelo time paulista, rendeu ao SBT a maior audiência de sua história na ocasião: 42 pontos, contra 24 da Globo. O recorde foi desbancado apenas pela final da primeira Casa dos Artistas, em 16 de dezembro de 2001 (47 pontos).
"Fui Silvio Santos e não pude falar a ninguém"
Procurado pelo NaTelinha, Oscar Pardini conta os bastidores da convocação para "ser" Silvio Santos.
"O SBT ia transmitir a Copa do Brasil, e o Silvio fazia chamadas dentro do programa, mas estava com um problema de calo nas cordas vocais, a voz dele falhava. O Luciano Callegari, que era o vice-presidente [da emissora] naquela época, me chamou: 'Silvio não pode cantar. Você cantaria? Mas sem contar piada, tem que cantar como o Silvio, porque quando ele estiver com o auditório ele solta o seu áudio e canta por baixo ao vivo'. Falei: 'Claro que eu cantaria, vamos fazer'", recorda.
Pardini representou Silvio Santos sem poder exagerar nos gestos e nos bordões como faz todo imitador. Afinal, tinha que parecer a voz do dono do SBT, e mais: com afinação. Durante muitos anos, o humorista precisou esconder que dublou o apresentador: "Eu não podia falar nada para ninguém”.
O humorista se sente lisonjeado por "ser" Silvio Santos durante os jogos de futebol. A relação com o apresentador se estendeu para além da imitação. O patrão, que não gostava de ser ridicularizado, aprovou e incentivou o trabalho de Pardini.
"Quando participei do programa dele, a primeira coisa que pediram foi: 'Pelo amor de Deus, não faça o Silvio, ele não gosta de ser imitado'. Durante a gravação, ele pediu e eu fiz, e ele imitou a minha imitação. Depois, ganhei o microfone dele, aquele que caiu no tanque de água", relembra.
"Por minha causa, diretor mandou Silvio tomar no c..."
Durante muitos anos, Oscar Pardini foi o único imitador de Silvio Santos no SBT. Nos finais de semana, trabalhava no Domingo Legal e costumava ver o patrão nos corredores do canal. A representação perfeita, porém, quase custou o emprego do braço-direito e Silvio e Gugu Liberato: o diretor Roberto Manzoni, o Magrão.
"Silvio tinha o habito de ligar para o Magrão na parte da manhã para falar sobre o programa do Gugu. Naquele dia, o Magrão estava no banho e a mulher dele atendeu o telefone. 'Roberto, o Silvio está na linha e quer falar com você'. 'Não, a essa hora o Silvio não liga, é coisa do Pardini'. Silvio ligou de novo, e a mulher do cara avisou. Ele saiu enrolado na toalha e pegou o telefone: 'Porra, você não tem o que fazer? Vai tomar no seu cu! Eu estou no banho!', e desligou. Tocou o telefone, ele atendeu e era o Silvio rindo. Ele morreu de constrangimento. Eu não sabia de nada, e ele falou que era culpa minha: 'Você vive dando trote!'", conta o humorista.
Pardini rejeita o título de melhor imitador de Silvio Santos, embora seja reconhecido pelo próprio apresentador. Para o humorista, que já enganou até a filha do patrão, Patrícia Abravanel, o dono do SBT tem um carisma único na televisão.
"O Silvio é o cara mais imitado do Brasil pela empatia dele, a energia positiva, tudo de bom que ele passa. Quando faço nos shows, o público responde como se fosse o Silvio. Quero dizer com toda a humildade do mundo: eu não me considero o melhor, o oficial, o primeiro. É que essa história surgiu porque eu realmente fui o primeiro em uma época em que ele não queria que ninguém imitasse, foi o primeiro que ele mesmo pediu, e foi ficando aquele negócio: 'Ninguém faz o Silvio como o Pardini'. Eu, humildemente, acho que deve ter caras muito bons que fazem o Silvio, mas eu fiquei com isso", avalia.
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