Parkour e Machismo: Gabi Machado fala sobre a quebra de tabus
Esportes
Publicado em 01/06/2020

 

Por Vanessa Couto

Muito provavelmente já ouviu falar do Parkour. Aquele esporte onde as pessoas pulam muros, fazem mortais, escalam prédios entre outras habilidades bem radicais. Nada mais é do que jovens, em sua maioria, em busca de diversão e adrenalina nos centros urbanos.

Gabi Machado é uma representante feminina, estudante de Letras, com 24 anos, destes 4 anos são dedicados ao Parkour. Superando preconceitos por estar em um ambiente predominado por homens, Gabi bateu um papo com nossa Jornalista do Canal Over, Vanessa Couto, sobre sua trajetória na modalidade e desafios enfrentados.

Foi através do desejo de ser independente que o Parkour entrou em sua vida. Quando a jovem tomou a decisão de sair de casa, conseguiu seu primeiro emprego em uma academia de Parkour. No início era recepcionista e utilizava o espaço de trabalho para praticar a capoeira.

Porém a capoeira passou a perder espaço no coração da Gabi. “Com o passar do tempo, eu vinha me distanciando da capoeira, por que era um ambiente machista”, diz a atleta. Sentia-se desconfortável com os comentários e músicas preconceituosas. “As músicas falam que a mulher não tem que passar maquiagem, não tem que sair de casa”, pensamento muito contrário do que a Gabi acredita e afirma que a mulher tem a liberdade de fazer o que deseja independente da opinião alheia.

Após pedir para um professor ensinar o movimento Monkey, uma ultrapassagem de obstáculo, Gabi viciou e não parou mais. “Eu abria e fechava a academia, então eu chegava mais cedo, treinava, fechava e continuava treinando. Chegou em um ponto que eu saia correndo a noite para pegar o último ônibus.”

Um dos pontos que a praticante do Parkour destaca foi acreditar que a capoeira ajudou no seu desenvolvimento no esporte. “Acho que toda modalidade ajuda, pois você tem mais consciência corporal.” Ao mesmo tempo Gabi afirma que o Parkour possui mais possibilidades de movimentos do que a capoeira. “Ele tem bases, mas não tem regras, então você pode explorar como quiser.”

Quando passou a treinar na rua, começou os desafios, escutava frases como. “Isso não é coisa de menina! Nossa, vai embora! Vai para sua casa!”. Em uma das vezes chegou a ouvir que iria morrer. Mas o interessante que o preconceito não partia apenas das pessoas comuns, mas também de praticantes do Parkour: “Ouvia que a forma como eu fazia não estava correta, que precisava fazer tal coisa”.

A grande questão era a imposição de regras que a Gabi sentia por parte dos colegas do esporte. “Eu queria me encontrar em uma modalidade que era aberta para todo mundo. Parkour não é uma atividade que você não precisa do outro para praticar, você pode sair sozinho e treinar.” Por isso que no começo treinava sozinha, no máximo com dois colegas e quando se sentiu segura, voltou a se aproximar de sua comunidade “Ser iniciante em qualquer situação as vezes é muito complicado, porque as pessoas querem que você passe pelo processo delas e não pelo seu próprio.” Sua confiança ajudou na aceitação de todos inclusive pelos homens.

Após perceber a necessidade de aprovação masculina pelos praticantes do Parkour, a jovem teve a ideia de produzir um documentário. A princípio foi bem despretensioso pois não sabia ao certo onde iria chegar, mas seus ideais a movia.

Então criou um quiz de perguntas como: “Existe machismo dentro da comunidade do Parkour?” Com todas as respostas guardadas até hoje, Gabi conta que se surpreendeu ao ver duras críticas por parte de mulheres: “Não existe machismo dentro do Parkour. Não, porque a comunidade é super inclusiva.” A jovem destaca, a que nível os comentários chegaram: “Não existe machismo no Parkour e se alguma mulher disser que sim é mentira”. Ao mesmo tempo um grupo de garotas confirmaram sua intuição: “Com certeza! Parei de treinar porque sofri machismo.” Neste instante sentiu a necessidade de fazer algo a respeito.

Uniu a vontade, com a oportunidade de estar perto dessas meninas dentro da academia, as câmeras de seus amigos mais próximos e coletou diversos depoimentos. “Não queria falar por ninguém” Gabi deu voz a essas garotas que entregaram declarações fortes que nem foi possível colocar todas. Ela reconhece a dificuldade das mulheres em se abrirem principalmente pelas críticas sofridas por sua própria comunidade: “A gente não pode negar porque ama o Parkour, você ama sua modalidade mas ela tem coisas ruins, as vezes não é dela, é da comunidade que representa ela. Mas você precisa falar disso para que sua modalidade seja realmente o que você quer que ela seja.”

Fez questão de montar sua equipe com mulheres, as atletas Agnis, aquiteta e Karina, organizadora de eventos do regional, além da Tati, amiga e responsável pela filmagem. E o resultado vem sendo colhido a cada dia, pois se discutem mais sobre o assunto através de grupos no whatsapp, eventos regionais em vários lugares e encontros femininos que acontecem todo ano no Brasil.

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