Fim da novela ESPN E Fox Sports?
Comunicação
Publicado em 05/05/2020

Foto: Reprodução

Nesta quarta-feira (6), depois de uma novela interminável de dois anos, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) vai decidir o destino da fusão entre Disney e Fox no Brasil. O empecilho no nosso país era um só: o que fazer com o Fox Sports, se a ESPN já é da Disney? E mais: o que fazer com os direitos de transmissão, mais de 200 funcionários e a estrutura física do canal esportivo? Foi essa discussão que fez tudo se arrastar. Agora, as duas emissoras esportivas podem se tornar irmãs. Uma só? Não exatamente agora.

Tudo começou quando a Disney decidiu adquirir a Fox e suas franquias em todo o mundo por US$ 71 bilhões em 2018 - na época, em uma transação em torno de R$ 269 bilhões. A compra só não valeu para o Fox Sports, o Fox News e a Fox dos Estados Unidos, mas os famosos estúdios de cinema e o Fox Sports no resto do mundo foram adquiridos.

Em cada país, a compra foi regulamentada pelo órgão local que cuida de assuntos econômicos. No México, por exemplo, a Disney tem até agosto para vender o Fox Sports, ou o canal esportivo será extinto por lá. Na Argentina, a fusão foi aprovada mediante algumas garantias e, hoje, ESPN e Fox Sports trocam conteúdo, inclusive a transmissão da Libertadores.

Mas no Brasil, a preocupação não era essa. O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), num primeiro momento, aprovou a fusão no nosso país condicionando a venda obrigatória do Fox Sports. O motivo: para o Cade, a possível fusão poderia acarretar num duopólio no mercado de TV esportiva, com SporTV, da Globo, e ESPN, da Disney, ficando apenas como players de TV paga.

O fato nunca agradou a Disney. No decorrer do processo, a Disney criticou a posição do conselho e disse que jamais poderia fazer parte de um monopólio na TV esportiva, já que praticamente todos os eventos nacionais, que tem grande apelo com o público, estão de posse do Grupo Globo em TV aberta e fechada.

Diante da situação, a Disney contratou um escritório de advocacia especializado e o banco ING, que o representou nas negociações para a possível venda do Fox Sports. E, assim, a Disney seguiu as diretrizes. Tentou achar um comprador. Inicialmente, o DAZN e a Fox americana fizeram consultas, mas o modelo de negócio proposto não agradou.

E qual modelo era esse? O de "porteira fechada". Ou seja, a Disney precisava vender o Fox Sports como uma espécie de combo. Não daria para demitir os 200 profissionais apenas e ficar com o resto da estrutura e direitos de transmissão, por exemplo. Quem quisesse comprar o Fox Sports, teria que levar tudo junto, num arremate só.

Com esse mesmo modelo, surgiram outros interessados, como a Simba Content, joint-venture formada pela RedeTV!, SBT e Record, mas ambas rapidamente desistiram; e a Mediapro, companhia espanhola que produz conteúdo esportivo e faz a gerencia de direitos de transmissão na Europa. Mas nenhuma delas animou-se também.

Nessa altura do campeonato, a Disney já tinha incorporado os outros canais Fox ao seu portfólio, como o Fox Channel, o FX, o NatGeo. Alguns desses canais fizeram propagandas de eventos da ESPN Brasil em suas programações, mas esqueciam o Fox Sports, que virou praticamente um canal independente.

No fim do ano passado, sem achar compradores para o canal, o Cade decidiu fazer a revisão da fusão entre Disney e Fox no Brasil, alegando que isto era um dispositivo previsto. Nesse momento, um nome importante entra no assunto: o conselheiro Luis Henrique Bertolino Braido, que assumiu cadeira no Cade indicado pelo governo Jair Bolsonaro praticamente na mesma semana que a revisão foi definida pelo conselho.

A venda do Fox Sports: tentativa número 2

Bertolino Braido assumiu a relatoria do caso no Cade e fez o assunto ganhar um contorno demorado ainda maior do que já estava. Como ele estava chegando agora, o relator gostaria de entender melhor a situação e até mesmo encontrar um novo comprador para o Fox Sports.

E isso foi feito até o último minuto. Berolino Braido quis saber, entre outras coisas, se os canais Fox ganharam audiência nas mãos da Disney; qual a situação financeira do Fox Sports e até mesmo como o canal esportivo comprou alguns direitos de transmissão mesmo sendo não tendo orçamento da Disney por trás, como a MotoGP mais recentemente.

Nessa história da MotoGP, acabou entrando uma personagem tardia na história: a Rio Motorsports, empresa que ficou conhecida por tentar levar a Fórmula 1 para o Rio de Janeiro. A empresa se interessou em comprar o Fox Sports, e se mostrou apta para isso, mas a Disney deixou claro ao Cade que não queria vender o Fox Sports para eles. Motivo: a falta de experiência na gestão de TV do grupo. Com o argumento final e os outros compradores se mostrando inaptos a darem uma solução para o assunto, o Cade decidiu acelerar o processo após a Disney dar demonstrações que já havia feito de tudo para vender o Fox Sports sem nenhum êxito. Marcou o assunto para ser discutido em plenário nesta quarta-feira (6).

Pelo relatório do relator Luis Henrique Bertolino Braido, publicado em primeira mão pelo UOL Esporte, a fusão será aprovada nesta quarta, já que seu voto é considerado um "condutor de decisão". Ou seja, o que Bertolino Braido decidir, será seguido pelos outros conselheiros do plenário do Cade, composto por sete cadeiras.

Qual será o futuro de ESPN e Fox Sports?

Em uma apuração nos últimos dias, o UOL Esporte soube que o Cade dará pelo menos duas condições para aprovar a fusão entre Disney e Fox no Brasil. A primeira delas é a manutenção do Fox Sports no ar por pelo menos 36 meses, ou três anos, após a aprovação do negócio - ou seja, até o mês de maio de 2023.

Outro ponto é a estabilidade de, pelo menos um ano, de todos os profissionais do Fox Sports que estiverem sob contrato também a partir da aprovação da fusão. Ou seja, na prática, o Fox Sports não vai acabar ou sair do ar. Pelo menos, por enquanto. Nesse início, ele vira uma espécie de canal "irmão" da ESPN Brasil.

A reportagem apurou que os valiosos direitos de transmissão da Libertadores da América, por exemplo, ficam de posse da dona do canal esportivo. Ou seja, da Disney, que assume imediatamente o Fox Sports. Assim como está acontecendo na Argentina, a ESPN e a Fox partilhariam jogos entre si, havendo uma interação maior entre os profissionais. Alguns ativos que não interessem podem ser vendidos pela Disney para outras empresas.

Por fim, com a decisão tomada, a Disney poderá fazer alguns investimentos que deseja na área esportiva. A falta de uma definição estava impedindo que a ESPN conseguisse projetar como entraria na disputa dos direitos de transmissão de campeonatos que ela tem interesse na renovação, como o Campeonato Espanhol, por exemplo, que finaliza seu contrato nesta temporada.

Para os profissionais do Fox Sports, as garantias de emprego, que o Cade promete brigar e fiscalizar, são a melhor notícia que se podia ter num momento difícil. Para o bem ou para o mal, a decisão será sacramentada nesta quarta. E a novela entre Disney e Fox no Brasil finalmente pode ter um encaminhamento.

Fonte: UOL

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