Fato ou Fake — Foto: G1
No Dia da Mentira, aprenda a verificar conteúdos enganosos e não compartilhe algo sem ter certeza de sua veracidade.
Cura milagrosa para o novo coronavírus, medidas radicais tomadas por outros países para manter a população em casa, áudios com revelações bombásticas sobre o número de infectados pela Covid-19. Em meio à pandemia global, os conteúdos duvidosos compartilhados na internet se multiplicam nas redes sociais e no WhatsApp.
Neste 1º de abril, popularmente conhecido como Dia da Mentira, a equipe do Fato ou Fake, o serviço de checagem do Grupo Globo, preparou um manual com dicas práticas para ajudar os leitores a identificar se uma mensagem é #FATO ou #FAKE.
1- Desconfie de textos alarmistas
Manchetes e textos alarmistas podem até despertar a sua curiosidade, mas o objetivo costuma ser apenas conseguir cliques. Aqui entra o bom senso: se uma mensagem parecer, à primeira vista, “inacreditável”, talvez seja justamente porque ela não existe. Em geral, quem tenta enganar o público escolhe exagerar ou inventar eventos absurdos para mexer com a emoção do leitor. Durante uma pandemia e com boa parte da população em casa, esses apelos ficam ainda mais fortes.
Uma checagem feita pelo Fato ou Fake desmentiu uma imagem compartilhada nas redes sociais como se fosse de um noticiário de TV, com a descrição de que o governo russo soltou mais de 500 leões às ruas para que a população tenha medo de circular e, assim, permaneça em casa, limitando a propagação do novo coronavírus no país. A imagem, por si só, é falsa. Trata-se de uma montagem. A foto utilizada é a de um leão, batizado de Columbus, feita durante filmagens de uma produção local em 2016 em Joanesburgo, na África do Sul. O fato foi reportado por vários jornais à época. Além disso, a Embaixada da Rússia em Brasília nega a informação propalada e diz que o governo jamais tomaria essa medida sem sentido. Não houve nenhuma reportagem na TV com essa notícia.
2- Tome cuidado com as imagens
Imagens podem ser facilmente manipuladas digitalmente ou retiradas de contexto para enganar uma pessoa. O ideal é sempre buscar a versão original de uma foto, conferir onde ela foi publicada e pesquisar as circunstâncias em que ela foi feita. Uma maneira de fazer isso é através da busca reversa. Assim, é possível descobrir quantas vezes uma imagem já foi reproduzida na internet anteriormente, conferir se ela é antiga ou está sendo usada fora do contexto e também se foi feita em uma localidade diferente daquela descrita na mensagem que a acompanha.
Para saber se isso ocorreu com alguma foto, basta clicar sobre a imagem com o botão direito do mouse e escolher a opção "procurar imagem no Google". Caso a imagem a ser pesquisada não esteja publicada diretamente na internet, mas tenha sido recebida no WhatsApp, por exemplo, ainda assim é possível fazer a busca. Para isso, salve a foto no seu dispositivo e depois acesse a página de busca "Google Imagens" no navegador do seu celular. Logo depois, mude a visualização da página para "versão desktop". Ao lado do campo de pesquisa, há o ícone de uma câmera. Ao clicar nele, você tem a opção "enviar uma imagem", na qual é possível carregar o arquivo a ser checado. Caso o navegador do celular não tenha a opção "versão desktop", basta salvar o documento no computador e seguir o restante das instruções.
Por meio de uma busca reversa, a equipe do Fato ou Fake desmentiu que uma foto com dezenas de caixões mostrava vítimas do coronavírus na Itália. A imagem, na verdade, foi feita em 2013 pelo pelo fotógrafo Tullio M. Puglia, da Getty Images, e mostra caixões de imigrantes africanos que morreram em um naufrágio no país europeu. Na época, uma embarcação pegou fogo à noite e naufragou perto da ilha de Lampedusa, no Sul do país, com mais de 500 imigrantes a bordo. Ao todo, 366 pessoas, entre elas várias mulheres e crianças, morreram afogadas. Essa foi uma das tragédias migratórias mais graves já ocorridas na Itália.
3- Lembre-se que vídeos e áudios podem ser enganosos
Desconfie de vídeos que mostram cenas incomuns ou tenham legendas alarmistas. Áudios também podem ser facilmente retirados de contexto e são difíceis de identificar o verdadeiro autor. Foi o que aconteceu, por exemplo, com um áudio que circulou no WhatsApp há duas semanas com a informação de que havia centenas de pacientes diagnosticados com o novo coronavírus no Hospital Albert Einstein e milhares no Hospital Sírio-Libanês, ambos em São Paulo. A autora do áudio não se identificava na gravação. A informação, atribuída a uma empresa que presta serviço para unidades de saúde, era #FAKE.
No caso dos vídeos, também é possível usar ferramentas que fazem buscas reversas na internet em busca do original. Quando o vídeo está publicado no Facebook, descubra o endereço clicando com o botão direito do mouse sobre o vídeo e na opção mostrar a URL do vídeo. Quando o vídeo está no WhatsApp, baixe uma versão no computador. O passo seguinte é submeter o vídeo a uma ferramenta de análise de imagens. É possível fazer isso colando a URL do vídeo na caixa de busca ou "subir" o vídeo salvo no computador diretamente na ferramenta. Uma extensão gratuita para o navegador Chrome permite que seja colocado na caixa de busca o link do vídeo publicado no Youtube, Facebook ou Twitter diretamente para verificação. A ferramenta oferece várias formas de análise do vídeo e fornece um relatório dos detalhes encontrados.
Uma das principais funções da ferramenta é a separação do vídeo em vários frames ou telas. A partir desses recortes é possível verificar se o mesmo vídeo já foi publicado outras vezes na internet, em outros lugares, épocas e idiomas. Neste caso, também será feita a busca reversa de 10 frames em três buscadores diferentes: Google, Yandex e Tineye. Os resultados apontam se aquelas imagens já foram publicadas antes e aonde. Busque sempre veículos da imprensa profissional que noticiaram o episódio retratado nas imagens.
4 - Consulte as fontes
Atribuir um número ou uma informação a um órgão oficial ou a uma organização privada é fácil, mesmo seja que seja falso. Por isso, é necessário sempre checar as fontes. Muitos órgãos públicos apresentam dados em seus sites, o que facilita a pesquisa. Também é possível fazer uma busca online pelo nome de uma pessoa a quem se atribuiu uma informação. Assim, é possível comprovar se ela efetivamente existe, se trabalha na empresa envolvida, entre outras informações.
Uma mensagem com conteúdo enganoso desmentida pela equipe do Fato ou Fake dizia que a Organização Mundial da Saúde (OMS) havia feito um cartaz recomendando "evitar sexo desprotegido com animais". Na verdade, a imagem do cartaz, em inglês, foi manipulada digitalmente. A palavra "sex" (sexo) foi colocada no lugar de "contact" (contato). A frase no material original é "Avoid unprotected contact with live wild or farm animals (Evite contato desprotegido com animais selvagens ou os criados em fazendas, em português). Neste caso, todas as dicas e os cartazes verdadeiros sobre o novo coronavírus estão disponíveis para download no site da OMS.
5 - Confira a publicação em um veículo profissional de imprensa
Quando uma informação é verdadeira e relevante, ela provavelmente foi publicada por algum veículo profissional de imprensa. Procure saber se já existe alguma reportagem sobre o assunto e confira a apuração: o jornalismo tem o compromisso de ouvir e incluir o outro lado da história. Em meio à pandemia do novo coronavírus, por exemplo, foi muito disseminado que Cuba havia enviado uma vacina contra a Covid-19 para a China, que já havia curado 1,5 mil pessoas. Até o momento, porém, veículos de imprensa por todo o mundo já reiteraram inúmeras vezes as afirmações de especialistas de que ainda não há cura para a doença.
No caso de conteúdo sobre Cuba, a checagem do Fato ou Fake revelou que o texto cita, na verdade, o Interferon Alfa 2B, que é apenas um dos 30 medicamentos escolhidos pelo governo chinês para tratar pacientes com coronavírus. Procurado, o diretor de investigações biomédicas do Centro de Engenharia Genética e Biotecnologia de Cuba, Gerardo Guillen, afirma que o país não tem a vacina contra a Covid-19. "As informações que circulam se referem ao Interferon, que é um produto terapêutico, que se utiliza para fortalecer a imunização geral, não é específico como as vacinas. Obter uma vacina levará um ano ou um ano e meio."
6 - Verifique antes de compartilhar
Se você receber alguma mensagem e tiver dúvidas se é #FATO ou #FAKE, não compartilhe. Repasse apenas informações que você tem certeza que sejam verdadeiras. Você é responsável pelo que compartilhe. "Mande esse texto para todos os seus contatos" ou "Faça essa mensagem chegar ao maior número de pessoas" são frases comuns em textos que contêm conteúdos falsos.
Fonte: O Globo