O grafiteiro Mundano, que já virou tema de série de TV com seu projeto "Pimp My Carroça", em que usa o grafite como ponto de partida para resgatar a autoestima de catadores de materiais recicláveis, criou um kit de higiene básica para ajudar a combater a disseminação de coronavírus entre a população mais vulnerável. Em menos de uma semana, a ideia, muito simples, passou a ser replicada no país todo e já chegou à África do Sul. Uma maneira solidária de celebrar o Dia do Grafite, nesta sexta (27).
"Quando ter água e sabão é privilégio, a gente tem de se mexer", diz Mundano. Trata-se de um kit que pode ser feito com materiais reaproveitados dentro de casa. "Basicamente, são duas garrafas pet ou algum outro frasco de plástico, com água nas duas. Em uma delas, basta colocar bastante detergente ou sabão líquido para fazer uma mistura", ensina o artista. "Depois, com um prego ou qualquer outro objeto perfurante, faça um furo em cada tampa para evitar o contato na hora do uso e amarre os recipientes com barbante ou tecido para que o kit não se separe. Por último, é só identificar os frascos como 'água' e 'sabão'."
Mundano conta que, no início, a ideia era que os catadores pudessem fazer seu próprio kit. O artista e ativista, que desde 2017 contabiliza mais de 250 mil downloads em sua plataforma Cataki —um aplicativo gratuito que conecta catadores a geradores de resíduos—, fez um vídeo para instruí-los sobre o que era o Covid-19 e as formas de prevenção. "Mas a iniciativa era insuficiente, e percebemos a necessidade de ampliar a divulgação para incluir mais gente."
Por meio de seu perfil no Instagram, ele passou a convocar os seguidores a criarem kits e distribuírem para pessoas em situação de rua em suas cidades. Desde então, personalidades como o músico João Gordo e a apresentadora MariMoon abraçaram a causa e estão ajudando a divulgá-la. "Acredito que mais de mil kits já foram distribuídos até agora", diz.
Para ajudar, explica, não é necessário sair distribuindo água e sabão massivamente, já que é de suma importância seguir as orientações da OMS e evitar o contato social. "É possível fazer isso se você eventualmente sai na rua para ir ao mercado ou para passear com o cachorro", afirma Mundano, que diz ter se inspirado no sistema usado pelos lavadores de para-brisa que atuam nos semáforos da cidade. "Estou sempre na rua e já tinha observado que eles usam garrafinhas com furos na tampa para facilitar o processo."
Ele também orienta a colocar as garrafas com água e sabão em lugares estratégicos, perto de ruas com maior fluxo de pessoas, e distribuir para entregadores que estão fazendo delivery de moto durante o período em que a maior parte da população está em isolamento em casa.
'Internet é tudo'
A vantagem do kit portátil é que ele pode ser colocado em um poste ou em uma árvore. "Isso se tornou uma corrente enorme. A internet é tudo neste momento", diz. Ele cita como exemplo o caso da catadora Cacilda Souza de Almeida, de Ourinhos, que já fez mais de 100 kits para distribuição em sua cidade.
Recentemente, Mundano soube que um colega da África do Sul do universo maker está fazendo protótipos com mangueirinhas em que não é necessário contato. "Muita gente está criando outros modelos de kit.
Renda mínima Mundano alerta que os catadores de materiais recicláveis estão ainda mais vulneráveis porque não têm renda fixa e a reciclagem está suspensa para evitar a disseminação do coronavírus. Por isso ele criou o projeto de crowdfunding "Renda Mínima para os catadores" com o objetivo de arrecadar R$ 500 mil.
"É uma meta ambiciosa, mas isso garantiria renda mínima para cerca de 3.000 catadores que fazem parte do aplicativo. Além disso, estamos estimulando grafiteiros e outros artistas a doar obras que usaremos como recompensa para quem participar."
Fonte: UOL