Las Vegas CES 2020 – Olhar Digital
Relato de participante que afirma ter testado positivo para os anticorpos contra o novo vírus levanta a suspeita de que a conferência em Las Vegas pode ter sido um foco de disseminação da doença.
Um dos principais eventos globais de tecnologia, a CES 2020 atraiu milhares de representantes do setor e repórteres de todo o mundo para conferências realizadas em Las Vegas, nos Estados Unidos. A feira, que aconteceu entre os dias 7 e 10 de janeiro, ficou marcada pelo lançamento de novos conceitos de tecnologia, como os televisores com resolução 8k.
Uma nova reportagem do APM Reports, no entanto, aponta que a CES 2020 também pode ter sido um foco de disseminação do novo coronavírus, quando a pandemia ainda estava longe de ser reconhecida. Nesta semana, Michael Webber, professor da Universidade do Texas que trabalha para uma empresa de energia global em Paris, afirmou que provavelmente estava infectado com Covid-19 durante o evento.
Nesta segunda-feira (20), ele recebeu o diagnóstico de um exame de anticorpos que comprovou a contração da doença. Logo após a CES 2020, Webber apresentou sintomas comuns da Covid-19, como febre e dificuldade de respirar. Na época, nenhum caso da doença havia sido confirmado nos Estados Unidos e poucas pessoas eram submetidas a exames de diagnósticos, porém estudos mais recentes detectaram que a primeira morte por coronavírus no país aconteceu em fevereiro.
Relato no Twitter
Em 18 de janeiro, o professor já especulava no Twitter a possibilidade de ter contraído a doença. "Passei a semana passada em Las Vegas com meu chefe na #CES2020 com 170 mil pessoas, incluindo muitos da China, e ficamos com um resfriado respiratório estranho que nos deixou doentes por uma semana, então meu eu paranóico está convencido de que tenho esse novo vírus assassino", escreveu o professor, em referência ao novo coronavírus.
O relato de Webber ainda encontra respaldo em depoimentos de outros participantes que também alegaram sintomas de uma forte gripe após a CES 2020. No Twitter, alguns usuários chegaram a descrever o contágio como "Gripe de Vegas" e também relataram que outras pessoas aparentavam estar doentes na conferência.
Além disso, a reportagem aponta o fato de executivos chineses representarem uma ampla parte dos 170 mil participantes da CES 2020 - as companhias de origem do país asiático correspondiam a um quarto das empresas com exibições marcadas no evento, segundo a reportagem. Pouco mais de 100 pessoas eram de Wuhan, o primeiro epicentro do novo coronavírus, onde a doença foi detectada nos últimos dias de 2019.
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Não há evidências suficientes
De acordo com a publicação, a reportagem entrou em contato com vários participantes que ficaram severamente doentes, dias após a CES 2020. Três deles ainda aguardam o resultado de testes de anticorpos. No entanto, os relatos são evidências anedóticas - isto é, são baseados em experiências pessoais e não têm validade científica para determinar se a CES 2020 foi realmente um epicentro do novo coronavírus.
Além disso, é preciso lembrar que alguns testes de anticorpos, inclusive ao qual Webber foi submetido, ainda não foram aprovados pela Food Drugs and Administration - agência reguladora norte-americana equivalente à Anvisa no Brasil. A precisão desses exames, inclusive, é alvo de questionamento por autoridades públicas.
Para Peter Chin-Hong, especialista em doenças infecciosas e professor de medicina da Universidade da Califórnia, em São Francisco, o caso da CES pode fornecer pistas, ou "evidências", sobre como o vírus se espalhou no Vale do Silício em um momento em que a Covid-19 ainda não era alvo de calamidade pública no país.
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Ele diz, entretanto, que são necessárias mais investigações para entender o quanto a conferência impactou na disseminação global do coronavírus. Chin-Hong pondera, ainda, que é importante examinar as etapas e os erros cometidos nos possíveis primeiros dias da epidemia. "Esses relatos nos ajudarão no futuro.", afirmou.
Experiência de repórteres
O Olhar Digital esteve presente na CES 2020 para cobrir as inovações tecnológicas apresentadas no evento. Assim como muitos participantes, nossos correspondentes também apresentaram sintomas de uma ‘forte gripe’.
Eles não foram submetidos a exames de diagnóstico para Covid-19, tampouco a testes de anticorpos, portanto não é possível afirmar que eles, de fato, contraíram a doença. Por outro lado, os depoimentos dos jornalistas reforçam que a CES 2020 foi um foco de disseminação viral.
O editor-chefe do Olhar Digital, Cesar Schaeffer, relata que voltou com "bastante tosse" e uma "gripe" forte de Las Vegas. Ele afirma que não apresentou febre ou outros sintomas da doença, mas chegou a passar por uma consulta com um médico otorrinolaringologista "porque não estava sentindo cheiros" - vale lembrar que a anosmia, ou perda de olfato, pode ser um dos sintomas iniciais da Covid-19. Schaeffer ainda afirma que seu filho de cinco anos apresentou febre e muita tosse após alguns dias de seu retorno.
Já o quadro de Roseli Andreon, repórter de vídeo do Olhar Digital, apresentou mais complicações. A jornalista conta que no último dia em Las Vegas, em 10 de janeiro, uma sexta-feira, já apresentava coriza. Porém, foi durante o fim de semana que os sintomas da "forte gripe" se agravaram.
"No domingo, eu só conseguia ficar deitada. Fiquei completamente rouca e a tosse começou. Não tinha fome. Na segunda, não consegui ir pro trabalho e a tosse estava cada vez pior. Acho que tive um pouco de febre, mas não tenho certeza porque não pensei nisso; eu achava mesmo que era rinite", afirmou Roseli.
Ela diz que o cansaço persistiu por pelo menos uma semana; e a tosse por cerca de um mês. A jornalista afirmou ainda que não sentia fome e foi necessário muito repouso para superar o cansaço.
"Na época, ninguém pensava em coronavírus. Só comecei a pensar na possibilidade de Covid-19 há algumas semanas. Essa história da CES aumenta minha desconfiança", afirma a reportér.
Por: Olhar Digital