*Raony Pacheco
Várias partidas históricas do futebol estão sendo reprisadas pelos canais esportivos desde o começo da quarentada, devido ao coronavírus. Um programão e tanto para que é apaixonado pelo esporte e que, como eu, se emociona facilmente relembrando jogadas, craques e gols que estão eternizados na memória de torcedores.
Porém, nem sempre a experiência de rever alguns jogos é totalmente gratificante. Ver o seu time ser derrotado – uma derrota pra lá de doída – não é fácil. E mesmo sabendo que é reprise, fale a verdade: você deu uma passadinha no jogo, nem que seja para olhar novamente e não acreditar no gol perdido. Calma, não é só você que sofre disso.
Esse momento "relembrar é viver"do futebol já me fez superar um trauma, a Copa de 1998. Meu amigo e minha amiga, a final deste Mundial estava na minha lista de jogos para não assistir novamente. Não sei como explicar, mas era uma mistura de sentimentos que o jogo França e Brasil me causava. Claro, isso graças à minha paixão pela camisa verde-amarela. O Sportv reprisou a final recentemente. E neste dia tomei a decisão de sentar no sofá e assistir ao jogo – e também prometi não tomar um gole de cerveja durante os 90 minutos. Eu consegui não beber nada.
E que aula de futebol notei. Sim, a França jogou bem melhor que o Brasil a final no Saint-Denis. Zidane só faltou fazer chover. Foi a clara apresentação de uma seleção treinada contra um seleção de astros, porém, sem eficiência táctica para vencer os anfitriões. Mas, pera aí, por que só percebi isso agora? Em 1998, eu tinha 10 anos. Hoje, em 2020, tenho 31. Então, vou colocar o aprendizado na minha maturidade futebolística.
Isso não apaga o fato de que a Copa da França foi a minha Copa. E rever a decisão só me deixou ainda mais apaixonado pelo futebol. Superei, de fato, a minha primeira “tragédia”. Opa, a minha primeira. E qual é a segunda? O tal 7 a 1. Pergunto, você já assistiu novamente a vitória da Alemanha, em 2014? Viu mesmo, do começo ao fim? Eu... Não. Ato falho, sei. Mas, desculpe, sou um ser humano.
Entretanto, neste meu processo de formação Homo sapiens que desejo alcançar no futebol, inevitavelmente, um capítulo será a superação da aula alemã. E para isso terei de esperar a reprise deste jogo. Contudo, alguma emissora terá a coragem de reprisar o que é considerado o maior vexame do futebol brasileiro. Se a TV Globo reprisar no domingo, no horário clássico do futebol, às 16h, você vai assistir?
Pode ser uma forma de analisarmos ainda mais a eficácia do time alemão naquela Copa. Que, convenhamos, foi praticamente um futebol de aula tática, jogadores de alta qualidade e um time que aprendeu nas derrotas anteriores (mundiais de 2002, 2006 e 2010) a melhorar seu jogo, com vasto repertório ofensivo e solidez defensiva pouca antes vista. Contra o Brasil... Eles resolveram aplicar tudo que sabiam.
Números da Alemanha na Copa de 2014:
Marcou 18 gols
Sofreu 4
6 vitórias
1 empate
5 gols - Thomas Müller - Alemanha (vice-artilheiro da Copa)
Faça uma reflexão e me responda. E aí, vamos assistir Brasil e Alemanha, semifinal da Copa de 2014, sem sair do sofá um só segundo? Já estou fazendo a minha, mas acompanhado de uma boa cerveja. Ainda dói.
Raony Pacheco é jornalista e professor do Projeto Conectados.