Contradição que é convite à reflexão
Brasil
Publicado em 15/04/2020

*Raony Pacheco 

A quarentena pode servir como um período de reflexões invariáveis. Confesso que por inúmeras vezes sento no meu querido companheiro de bate-papos, o sofá, e faço exercícios de pontos de vista sobre assuntos que começam pelo esporte, que amo, e terminam até na minha análise do saber: será que realmente eu ajudo na limpeza da minha casa? Vá lá que é um questionamento que não aplicava no meu cotidiano antes do coronavírus, mas, agora, inevitavelmente, ele figura direto no meu confessionário, modo Big Brother Brasil, que montei na minha sala.

O todo que citei acima é mais para puxar um pouco para o assunto que abordarei neste artigo derivado do meu momento “sofá, chega mais, vamos conversar”. Entre as notícias e buscas na internet que tenho feito, hoje encontrei uma informação divulgada no dia 02 de abril, no portal Almapreta. Aliás, um belo portal de informações. Nele, uma matéria sobre o quanto será prejudicial aos negros o problema do coronavírus. A entrevistada da matéria é a executiva de Recursos Humanos Patrícia Santos, fundadora da consultoria EmpregueAfro.

Segundo ela, a maioria das pessoas atingidas pelo desemprego serão os trabalhadores negros, grupo majoritário em cargos operacionais de bares e restaurantes, turismo, evento, entre outros. Triste realidade.

E olha só que contradição do atual, isso nas comparações de realidades. O Covid-19 fez o brasileiro ficar mais em casa e ligar suas atenções em um certo programa de TV que tem um negro disputando um prêmio de R$ 1.500.000,00. O nome dele é Alexandro da Silva Santana, conhecido como Babu Santana, no meio artístico, e no programa é só Babu mesmo.

Aos 40 anos, ele é o “cara” da atração. Bubuzão, como também é chamado pelo seus admiradores, é um verdadeiro mestre na arte do entendimento das pessoas, superação de dificuldades e, por diversas vezes, aplica no programa uma vontade em nós de pararmos, pensarmos e nos questionarmos sobre nossas atitudes.

Aliás, já peço desculpas aqui antes do término deste texto, pois o Babu já me ensinou até que pessoas da pele preta não eram, de fato, chamados de negros. “Eram mouros, africanos, qualquer coisa, menos negro. Negro vem do nigro, do grego, que é inimigo”, disse no BBB. Errei, paizão, perdoa-me.

A tal contradição do momento é essa. A população preta, no Brasil, vai sofrer muito por causa do desemprego no período do coronavírus. E o Babu, preto, brasileiro, pode ser o maior vitorioso do nosso país no ano. Um milionário? Mais que isso, uma injeção de ânimo e lição de respeito para muitos.

Ele servirá como ponto de partida para levantarmos a bandeira de alerta para a igualdade racial? Só o tempo dirá. Em 2020, os pretos terão que superar mais problemas. Entretanto, um preto venceu, e que vitória, assim espero. Obrigado, Deus.

Raony Pacheco é jornalista e professor do Projeto Conectados. 

 

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