Sorriso e foto ampliada em crachá: hospitais tentam quebrar distância criada por máscaras
Saúde
Publicado em 14/04/2020

Equipe médica do hospital Madre Theodora usa crachás com fotos sorrindo Foto: Hospital Madre Theodora

Com objetivo de humanizar atendimento, médicos e enfermeiros adotaram novo formato de identificação; iniciativa surgiu no Estados Unidos e serviu de referência para hospital em Campinas.

O Hospital Madre Theodora, em Campinas, no interior de São Paulo, adotou uma nova medida para oferecer um tratamento mais humanizado a seus pacientes em meio à pandemia do coronavírus. Todos os seus funcionários de áreas de risco estão usando em seus equipamentos de proteção individual (EPIs) uma foto própria sorrindo, para identificá-los durante os atendimentos.

 

A ideia desse crachá surgiu pelo fato de os profissionais de sáude terem de trabalhar com uma paramentação que cobre por completo seus rostos, o que impede de reconhê-los. Por isso, o hospital adaptou uma iniciativa já implementada na UTI, em que colocavam, na cabeceira da cama, uma foto do paciente junto à família com intuito de mostrar à equipe médica um pouco da história da pessoa internada.

"Fizemos essa inversão para humanizar a ação e o paciente entender que quem está por trás da máscara é um ser humano, que também tem sua vida, sua família. Ele está se protegendo, mas, ao mesmo tempo, não deixa de ter os cuidados necessários para aquele paciente", explicou o diretor do hospital, Emílio Bueno.

 Profissionais de saúde do Hospital Madre Theodora, em Campinas, usam crachás com fotos sorrindo para pacientes reconhecerem Foto: Reprodução Facebook

 

A iniciativa complementa um procedimento já em voga na unidade. Qualquer funcionário deve se apresentar ao entrar nos quartos. Bueno acredita que dessa forma o contato se torna muito mais humano, sobretudo em momentos difíceis como ser diagnosticado com Covid-19.

"É muito confortável para o paciente saber quem está do outro lado. Primeiro, para ele chamar pelo nome. Com essa socialização da foto, a gente permite que o próprio colaborador seja visto de uma forma diferente. Isso é um alento que não tem preço, a vontade de ter o outro bem cuidado, de entregar a melhor forma do meu trabalho para que aquela pessoa se recupere", disse o diretor.

Médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e técnicos desfilam com o novo crachá em seus EPIs desde a última quinta-feira (9). A recente medida se tornou a rotina mais visível em tempos de Covid-19, que inviabiliza outras práticas habituais como musicoterapia e a visita de alguns animais de estimação.

Segundo a gerente de enfermagem, Aline Reche, a escolha das imagens foi bem criteriosa. A orientação aos funcionários foi para que mandassem fotos em momentos de felicidade e sem acessórios que dificultassem a identificação, como óculos escuros.

"Principalmente na terapia intensiva, o paciente é retirado de todo e qualquer convívio. Relatórios e boletins médicos são dados por telefone, e as pessoas ficam excluídas do hall familiar delas. O rosto mais próximo é de quem está prestando assistência. Por isso é importante ter um rosto bem definido. Uma imagem muitas vezes traduz mais do que algumas palavras", afirma Reche.

Profissionais do Hospital Madre Theodora, Rebeca, Átila, Aline e Emílio (esq. para dir.) usam crachás com fotos sorrindo Foto: Arquivo pessoal

Na semana passada, uma paciente esteve internada por suspeita de Covid-19. Enquanto ela estava no hospital, seu marido, com quem era casada há 55 anos, deu entrada em outra instituição e foi diagnosticado com a doença. Em poucos dias, ele morreu.

Gerente-médico, Átila Ventide, e a gerente de enfermagem Aline Reche Foto: Arquivo pessoal

De acordo om o médico, outros pacientes elogiaram a ação "É difícil você chegar numa pessoa completamente paramentada se você não consegue ver expressão facial, de dúvida, de alívio ou de acolhimento. E pelo menos ter a foto sorrindo traz esse aconchego. Faz toda diferença no atendimento", afirmou Vendite.

O Hospital Madre Theodora não informou quantos casos de Covid-19 recebeu até o momento. De acordo com o último boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde, Campinas registra 126 infectados e cinco óbitos. Há outros 1.047 casos em investigação.

 

Ideia nos EUA

Alguns dias antes do hospital adotar o novo padrão, em 4 de abril, o médico Robertino Rodriguez, de San Diego, Estados Unidos, publicou em suas redes sociais uma foto usando crachá similar. Ele iniciou um movimento batizado de "Share your smile", que ganhou adeptos no mundo todo.

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"Ontem me senti mal por meus pacientes na emergência quando entrava na sala com o rosto coberto de EPI (equipamento de proteção individual). Um sorriso tranquilizador faz uma grande diferença para um paciente assustado. Hoje fiz um crachá laminado gigante, para que meus pacientes possam ver um sorriso tranquilizador e reconfortante", escreveu Rodriguez.

Desde então, o médico começou a compartilhar registros de outros profissionais que aderiram ao movimento. A ideia se espalhou por países como Argentina, Irlanda e Rússia. Em sua conta, Rodríguez publicou uma foto da pediatra brasileira Emanuelle Queiroz, de São Paulo, que em vez de uma imagem sua colocou uma da princesa Ariel, da Pequena Sereia. "Nem todos os anjos têm asas, alguns tem estetoscópios", dizia a legenda do post.

Por: Época/G1

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