Foto: Fábio Tito/G1
Atendente fala que dá força para eles: 'Tratam os cachorrinhos como filho'. G1 publica entrevistas com quem segue com trabalhos essenciais fora de casa durante pandemia da Covid-19.
Lia Santos trabalha há três anos como vendedora em um pet shop no Centro de São Paulo e sempre foi a pé para o trabalho.
"Gasto só 25 minutos andando", explica. "A sensação agora é que estou em um filme de zumbi. Uns ficam com cara de assustado, outros estão em pânico."
Nesta semana, o G1 publica entrevistas com pessoas que prestam serviços essenciais e seguem trabalhando fora de casa durante o isolamento social por causa da pandemia da Covid-19.
Mas a caminhada pela Avenida Nove de Julho quase deserta não vem sendo o único momento de tensão de Lia.
A quantidade de idosos levando os cachorros para banhos ou visitando a loja em busca de ração para seus gatos segue alta. Eles também vão até ela em busca de dicas para os problemas de saúde dos pets.
"Eu fico com vontade de falar pra eles: 'Poxa, pelo menos usa a máscara, né?’ Eles tratam os cachorrinhos como filho", conta Lia.
"Se pra nós já está difícil, imagina pra eles", lamenta. "Eu dou muita força pra eles e falo que, no final, vai dar tudo certo."
Ela também diz que a maioria dos senhores e senhoras que vão ao pet não estão ali só para comprar algo para seus bichinhos. "Eles falam que querem passear mesmo."
"Eu tenho medo de vir trabalhar, mas tento passar pras pessoas que não estou com esse medo. Eu tenho que passar esse bem-estar pras pessoas, dar uma confiança pra quem vem aqui."
No início do isolamento social, a vendedora, de 39 anos, percebeu que muita gente quis comprar ração, medicamentos e outros itens para fazer estoques. Depois, o movimento foi ficando mais perto do normal.
Filho e marido em casa
Enquanto ela trabalha, o filho e o marido, cozinheiro, têm ficado em casa. Por enquanto, o restaurante em que ele trabalha fechou. "Ele atende mais a área de faculdades, advocacia. Então, está fechado."
Os pais de Lia, idosos, estão passando o isolamento na praia. "Só tenho falado por telefone, no zap. Eles foram pro litoral... Ele tem 74 e ela tem 72. Foram pra Peruíbe, porque uma irmã minha mora lá", explica, citando a cidade do litoral sul de São Paulo.
"No início, eles foram só para passar férias, mas depois veio essa tempestade toda. A gente resolveu deixar eles lá, porque é mais vantajoso pra eles."
Lia vem se acostumando com a distância dos pais e se lembra com serenidade do dia em que percebeu que a pandemia da Covid-19 era coisa séria:
"Quando aconteceu da escola falar pra não levar as crianças mais pra lá, eu pensei: ‘Meu Deus! Pra onde eu vou correr’. Quando falaram pra deixar idosos em casa e deixar as crianças longe dos idosos, aí caiu a ficha completamente”.
Por: G1