Marcos Fernandes de Omena, mais conhecido como Dexter, o Oitavo Anjo, construiu uma carreira consolidada no rap a partir do final dos anos 1990 e começo dos anos 2000. Cerca de duas décadas depois, o cantor se destacou na primeira temporada de Pico da Neblina, da HBO, como o traficante CD, e reprisou o papel na continuação, que estreou no canal no último domingo, 3.
Em entrevista exclusiva à Rolling Stone Brasil Dexter falou sobre a experiência dele como ator “oficialmente,” a importância dessa representatividade para outros jovens negros de periferia, que podem usar o rapper como inspiração e “buscar oportunidades melhores” e mais.
Dexter como ator? Onde isso surgiu?
Além de Pico da Neblina, Dexter se aventurou na atuação na peça Mundo Mágico de Oz, ao lado da irmã Creusa Borges. Além disso, o artista também aproveitava para se aprofundar nos videoclipes da carreira musical dele.
Esse desejo de atuar, como contou o rapper, surgiu lá na infância. “Desde criança, eu ficava na frente da televisão imitando cantores e atores. Minha mãe falava isso para mim. Essa é uma oportunidade para desenvolver [esse sonho],” relembrou à Rolling Stone Brasil. “Se você tem aptidão, por que não?”
“Sempre fui um sério candidato a morrer cedo, na mão da polícia ou do crime. Minha infância toda foi em uma favela, onde semana sim, semana não, eu via um corpo estirado no chão crivado de bala,” continuou Dexter. “Eu fui um sério candidato a isso. Hoje, se eu puder ser um cara reconhecido pelos meus talentos é o que eu quero ser.”
Atuar em Pico da Neblina, que discute assuntos pertinentes como minha música, é uma forma de incentivar, alertar o jovem, trocar uma ideia, orientar e fazer com que esses jovens busquem oportunidades melhores.
Além de ser uma grande fonte de inspiração, Dexter gosta bastante de atuar, tem gosto pela câmera, seja nos clipes da carreira solo ou do grupo 509-E, também formado por Afro-X.
Eis que surge o convite para fazer teste para uma certa série da HBO
Certo dia, Dexter chegou no escritório dele para a reunião semanal de pauta que ele e os funcionários fazem. A assistente do cantor comentou com ele sobre um convite para fazer um teste para a série Pico da Neblina, produzida pela O2 Filmes. O Oitavo Anjo leu e se interessou, então partiu para o teste.
“Foi uma surpresa. Encontrei com [o diretor] Quico Meirelles e outros atores e atrizes que estavam lá,” afirmou o cantor. “Tinha o roteiro que eu precisava desenvolver no dia do teste - e fiquei feliz com o resultado. Duas semanas depois chamado de novo e eu percebi ter algo ali: eu poderia ser escolhido.”
Para a segunda fase dos testes, Dexter precisou estudar outro roteiro e foi novamente para o processo seletivo: “Uma semana depois, recebi o convite para Pico da Neblina. Foi uma felicidade muito grande, porque atuar, embora seja a primeira para a TV, é algo que faço desde criança, sempre gostei da aproximação da câmera. A música me proporciona isso também com os clipes e shows.”
A primeira temporada de Pico da Neblina se passa em uma São Paulo ficcional onde o uso e o comércio de maconha foram legalizados, com o despertar da economia pós-legalização. Na continuação, cujos episódios saem semanalmente aos domingos, Biriba (Luis Navarro) vê todos os aspectos de sua vida dominados por CD (Dexter).
Para mim, atuar é sensacional, porque você pode emprestar seu eu para uma personagem
Como foi retornar ao papel de CD?
“A pandemia nos atrapalhou bastante, mas foi gratificante ao extremo poder voltar para a segunda temporada, estou muito feliz com a possibilidade que me foi dada,” pontuou Dexter. “Espero ter representado à altura. Ter recebido elogios dos meus colegas de trabalho me deu muito gás para continuar desenvolvendo CD. Estou muito feliz de poder continuar na série e emprestar meu físico para ele.”
Assim como no rap, fica visível ver a paixão de Dexter pela atuação - e isso transborda pela tela ao assistir à segunda temporada de Pico da Neblina, cujos primeiros episódios a Rolling Stone Brasil teve acesso antecipado. “Para mim, atuar é sensacional, porque você pode emprestar seu eu para uma personagem.”
Como o cantor adiantou, a nova temporada humaniza o personagem CD, discutindo outras questões em relação a ele, como o coração e o espírito. O público poderá ver a humanidade do traficante, mesmo com as decisões erradas e criminosas na vida dele.
Dexter não quer parar por aqui e seguir na série: “receber esse convite, poder passar no teste, foi subir uma prateleira na minha carreira. Quero agradecer O2 por isso e a HBO por investir na série, assim como todos que trabalham em volta da série.”
Agora, com todo repertório no rap e a expansão na atuação, Dexter, o Oitavo Anjo se vê em uma missão ainda mais especial: “Sou cantor de rap, com uma música que entra em conflito o sistema, que coloca o dedo na ferida. Ainda continuo nisso, mas com um pouco mais de liberdade para ser, um pouco mais de segurança para fazer isso que eu faço.”
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