Museus digitalizam acervo e se reinventam para driblar covid-19
Cultura
Publicado em 27/04/2020

Museu da Imagem e do Som pretende retomar exposiçõe/Ding Musa

Institutos culturais de todo o Brasil precisaram disponibilizar acervo online e mudar programação enquanto permanecem fechados.

Em meados de março, os museus de todo o Brasil fecharam as portas à medida que a implantação de quarentena avançava pelo país.

Com mostras, exposições e projetos programados para o ano todo, esses institutos culturais precisaram implantar planos emergenciais para continuar na ativa mesmo com as portas fechadas.

O imprevisto fez com que o acervo disponível na internet aumentasse logo na sequência para continuar em funcionamento, mesmo que à distância.

Segundo Cleber Papa, diretor cultural do Museu da Imagem do Som, em São Paulo, já existia um projeto para que o MIS tivesse uma presença mais ampla no ambiente virtual, mas a pandemia acelerou esse processo que já estava em curso. "Quando assumi o cargo, no início de 2019, um dos objetivos era ampliar a presença online, o que foi um grande acerto. A pandemia fez com que os esforços da equipe ficassem mais voltados a esse projeto, que teve sua implementação como tarefa primordial para o momento", garante.

Segundo Papa, esse trabalho vai ter resultados positivos para o futuro também, pois as escolas poderão ter acesso mais fácil e rápido aos grandes acervos do país a um clique de distância. "Focar os esforços na digitalização será ótimo para as tarefas dos professores em sala de aula também. Hoje muitas escolas tem acesso à banda larga. Poder navegar por dentro de um museu é muito importante na formação educacional e o Brasil pode e deve aumentar essa possibilidade", explica.

Papa garante que, como trata-se de um organização social de cultura com orçamento garantido pela Secretaria Estadual de Cultura de São Paulo, o MIS vai manter, por ora, a manutenção de toda a equipe de 110 funcionários e a retomada das mostras e exposições que foram interrompidas com a quarentena. "Assim que reabrirmos as portas, vamos retomar a exposição de fotos de John Lennon feitas por Bob Gruen, com uma grande festa, se possível. Por enquanto, temos focado também na manutenção dessas peças exclusivas, já que é preciso ter cuidado, utilizar câmara fria e proteções específicas para manter a integridade de quadros, fotografias e demais peças de um museu", comenta.

A agenda posterior, que previa a exposição comemorativa aos 50 anos do MIS e uma sobre carros continuam na agenda, mas podem ter as datas modificadas. "Se for o caso, a exposição que celebra meio século do MIS pode se chamar 50+1, se só acontecer em 2021. Não tem problema", garante.

 

Artistas: elos mais fracos

No Itaú Cultural, por outro lado, a agenda vai ser completamente repensada a partir da retomada das atividades. "Tivemos de cancelar todas as itinerâncias de exposições e atividades previstas para fazer pelo Brasil, como é prática do Itaú Cultural. Por exemplo, estávamos nos preparando para abrir em Fortaleza a exibição da escultura Spider, de Louise Bourgeois, que faz parte da Coleção Itaú Cultural de Arte. Ela já passou por Inhotim, Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro e agora seguiria caminho para o Ceará. Quando a pandemia passar, teremos de analisar como retomaremos essas itinerâncias, pois dependemos também das agendas e da capacidade das instituições que as recebem", explica Eduardo Saron, diretor da instituição.

Itaú Cultural manteve remunerações aos artistas/Divulgação

Mas o executivo garante que nenhum artista terá contrato suspenso e ficará sem remuneração por causa das mudanças. "Nossa primeira medida foi garantir, para já, a remuneração prevista nos contratos de todos os artistas que iriam se apresentar no Itaú Cultural e tiverem as suas atividades suspensas em virtude da quarentena. Posteriormente, eles voltarão a fazer parte da nossa agenda de programação", adianta.

Sobre atuação no universo digital, Saron garante que o Itaú Cultural sempre teve a vocação de ser multimídia. "A sua origem vem da ideia de ser uma base de dados de artes plásticas, que hoje é parte da Enciclopédia de Arte e Cultura Brasileira, e derivou nesta instituição que, atualmente, também está implicada em promover programação, debates, preservação da memória, cursos de gestão cultural e outros, em um conjunto de  iniciativas que busca refletir sobre a contemporaneidade e o patrimônio histórico-cultural além acrescentar conteúdo artístico e cultural à cena brasileira" resume.

Para algumas outras insitituições, como o Museu Nacional do Rio de Janeiro, compartilhar o acervo de forma online não é uma novidade. Em 2019, o museu havia inaugurado suas mostras dentro do projeto Google Arts & Culture, justamente para tornar acessível o acervo que havia sido consumido pelas chamas no incêndio que atingiu a estrutura em 2018. Esse exemplo também é bastante inspirador para outros museus que não poderão funcionar da mesma maneira por muitos meses. "O desafio do pós-corona não somente no mundo cultura, mas sobretudo nele, é encontrar o novo normal e o novo real. Nossa atividade é, por princípio gregária, algo que será profundamente repensado por toda a sociedade. Talvez a grande mudança de paradigma seja passar a pensar em iniciativas digitais que possam permear o mundo presencial e não o inverso, como era, até há pouco tempo, uma dinâmica de todos nós", detalha Saron.

Digitalização do Museu Nacional serviu de inspiração/Arquivo/Tânia Rêgo/Agência Brasil

Para Papa, infelizmente, outros setores culturais não terão a mesma sorte dos museus e institutos culturais e terão mais dificulde para a retomada. Porém, ele acredita que é momento de repensar não só os negócios como também nossa forma de viver. "Nós representamos a arte e a cultura e precisamos aproveitar esses momentos críticos para entender como vamos criar novos público, o quanto uma crise reforça nossa identidade cultural e o que temos para oferecer para uma sociedade que sairá disso fragilizada. Temos ideia de até fazer uma mostra que explore coisas simples do cotidiano que deixamos de fazer por causa do corona, como comer um pastel na feira. Uma ideia simples, mas que diz muito sobre esse período de isolamento".

Por: entretenimento.r7.com

 

Comentários