Foto: Arquivo pessoal
RIO - Colégios privados – que concentram 17% dos alunos no ensino fundamental brasileiro e 12% do médio – também estão encontrando alternativas para repor as aulas, sempre levando em conta o problema adicional de terem de equilibrar as contas. As estratégias são tão diversas quanto os desafios. Há desde classes ao vivo até plataformas que permitem a interação entre os estudantes.
O colégio Avenues, na Zona Sul de São Paulo, foi o primeiro a ter um aluno com teste positivo para a Covid-19 – e o primeiro também a dispensar seus estudantes. No fim de semana seguinte à confirmação, a escola preparou seus docentes para a nova fase. De modo geral, a nova rotina dos alunos começa com uma videoconferência com o professor e segue com atividades de leitura, escrita, matemática e até educação física.
Para o ensino fundamental e os anos finais do fundamental (do 6º ao 9º ano), não há uma agenda pré-determinada, mas os alunos devem consultar os conteúdos disponibilizados regularmente e cumprir as tarefas das quatro disciplinas do dia. Os cerca de 1.100 estudantes da unidade de São Paulo têm acesso à plataforma on-line. No início do processo, essa adaptação acabou por aumentar a carga de trabalho dos professores.
– Temos de avaliar todas as entregas dos estudantes no mesmo dia. Quando você está presencialmente, já dá o feedback na hora. On-line, o único jeito de fazer isso é mandar isso por escrito ou mandar um áudio. No começo, estava trabalhando de duas a três horas a mais por dia – disse Cristiano Cairolli, professor de Arte e Design.
As três unidades do Colégio Visconde de Porto Seguro, duas em bairros nobres da capital paulista e uma no interior, estão conectadas desde que os alunos foram mandados para casa. Do total de 9 mil estudantes, 4,5 mil do 6º ao 9º do ensino fundamental e do ensino médio têm acesso à plataforma que permite acompanhar as aulas em tempo real. Em poucos dias, o colégio montou 60 estúdios nos três campus, com câmera e equipamentos de transmissão, onde o professor dá aulas ao vivo. Para isso, os docentes precisam estar na escola de modo presencial.
- Quando vimos o que vinha pela frente, aceleramos a plataforma para continuar as aulas como se não tivéssemos parado. Procuramos mantê-las nos mesmos horários e com mesmas matérias diariamente, para que os alunos não sentissem a mudança - disse Marcos Bitelli, presidente da Fundação Visconde de Porto Seguro
No Rio, o Ceat, de Santa Teresa, se estruturou com aulas no YouTube, leituras e exercícios por plataformas digitais – abertas para receberem dúvidas – para que os alunos não fiquem parados durante a quarentena.
Descontos
Outro desafio é como resolver as questões financeiras. Os pais, contam diretores das escolas, vêm pedindo descontos nas mensalidade. Ao mesmo tempo,é preciso manter funcionários que atuam nas sedes físicas das instituições.
A administradora de empresas Adriana Rubenich, mãe de uma aluna do ensino fundamental no Mopi, teve 25% do salário cortado e precisará buscar mecanismos para equilibrar as contas. A escola, que tem sedes na Tijuca e no Itanhangá, informou aos pais que estuda possíveis descontos.
Enquanto isso, a filha de Adriana, Valentina, de 9 anos, voltou às aulas no dia 18 de março – no mesmo horário das presenciais, utilizando uma plataforma que antes servia para atividades complementares. São salas de aula on-line em que cada professor tem uma forma de interação diferente, mas todos ficam à disposição para dúvidas.
– Fiquei impressionada com a velocidade com que eles estruturam uma solução, e a minha filha adorou. Houve até um “encontro” com os colegas da sala de aula e a professora – conta Adriana.
Para a coordenadora pedagógica do Mopi da Tijuca, Heloize Charret, o papel da escola está sendo também ajudar a manter a “saúde mental” dos alunos, assim como suas rotinas, e o contato com social, promovendo a interação com professores e colegas. Ela pontua que o maior desafio agora não é necessariamente passar o conteúdo, mas avaliar se ele está sendo apreendido ou não.
- Como coordenação, o maior desafio é o acompanhamento. Cumpir o horário é fácil. Mas, como eu sei que o aluno está tirando proveito e, de fato, aprendendo? Estamos em um esforço enorme para buscar essas respostas. Entramos em todas as turmas para ver como está fluindo, vemos quem está participando, criamos formulários.... Ao fim da semana, fazemos um balanço do que funcionou e o que não funcionou. Estamos aprendendo a ser escola nessa realidade, assim como os alunos e os pais. Não é um desenho estático de ensino, vamos vendo o que pode ser melhorado a cada dia - diz a coordenadora.
Outras escolas já definiram plataformas de estudos e descontos. A rede Eleva, por exemplo, diminuirá a mensalidade em 12% até a volta às aulas presenciais.
Enquanto isso, há cronogramas de aulas da Educação Infantil ao ensino médio, com reforço especial aos alunos do 3º ano que farão o próximo Enem.
Lei em debate
No dia 24 de março, um projeto de lei foi protocolado na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) prevendo a redução temporária nas mensalidades de instituições de ensino particulares do Estado do Rio, enquanto durar a pandemia de coronavírus. A medida, no entanto, só será votada após ampla discussão com todos os envolvidos. A proposta original, que propõe uma redução de 30% nas mensalidades, já foi discutida na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na última segunda-feira, dia 30.
Segundo o diretor executivo do Mopi, Vinicius Canedo, a lei da renda mínima, que pagará R$ 600 aos trabalhadores informais, autônomos e sem renda fixa durante a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus pode ajudar a escolas a lidar com questões de pessoal.
- Escola é feita de diversos outros profissionais além do professor, como da equipe de limpeza, portaria, secretaria. É uma equipe enorme que não está trabalhando agora. A ajuda do governo federal fez com que evitássemos o mal maior, que seriam as demissões. Então, com esta ajuda, estamos pensando em reduzir carga horária ou suspender contratos temporariamente porque sabemos que estas pessoas terão um auxílio financeiro - afirma Canedo.
O PH também afirmou que, em relação aos salários dos professores, não há redução, nem de ganhos, nem de horas dedicadas às suas atividades. O que houve foi o direcionamento dos esforços para a oferta digital dos conteúdos, atividades e todo tipo de apoio aos alunos, com a devida intencionalidade e qualidade pedagógica. “Entendemos que a manutenção dessa remuneração, que representa a maior parcela de nossas despesas, é fundamental para que esses profissionais continuem com seu trabalho de excelência na formação de nossas alunos e alunas”, afirmou Abad, em nota.
Por: G1