Efeito COVID-19: 7 a cada 10 usuários deixam de usar aplicativos de transporte
Economia e Negócios
Publicado em 03/04/2020

Motorista de Uber usa máscara e luvas (15.mar.2020)/Foto: Jeenah Moon/Reuters

A quarentena imposta pelo novo coronavírus, e que obrigou as pessoas a ficarem em casa, atingiu em cheio os motoristas e, claro, os aplicativos de transporte. Em meio à crise, cerca de 7 a cada 10 usuários deixaram de gastar com o serviço no último mês, segundo levantamento do aplicativo Guiabolso, enviado com exclusividade ao CNN Brasil Business.

O período de avaliação da pesquisa foi da primeira semana do mês passado (2 a 8 de março) até a última (23 a 29 março). Enquanto no primeiro período analisado o ritmo permanecia normal, com 23,6% dos usuários da plataforma utilizando aplicativos como Uber, 99 e Cabify, na última semana apenas 5,7% deles solicitaram uma corrida de carro pelo celular. Em termos gerais, a redução foi de quase 75%. A base de estudo utilizada pelo aplicativo foi de mais de 250 mil usuários da plataforma de finanças.

A redução exponencial no mesmo mês é explicada por medidas adotadas por diversos governos estaduais e municipais. A partir da terceira semana de março, prefeitos de grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, impuseram quarentena obrigatória, com o fechamento do comércio, incluindo restaurantes e shoppings centers.

E se as corridas minguaram, o valor no bolso dos motoristas também teve uma redução impactante. O gasto médio por pessoa passou de R$ 63,50 na primeira semana de março, para R$ 37,40 na última. Em proporção à renda dos consumidores, o impacto dos gastos caiu de 1,2% para 0,6%.

“O consumidor está mais receoso. Estamos em um cenário muito cinzento, sem saber quão profunda, nem quanto tempo a crise vai durar. A quarentena servirá para as pessoas repensarem seus gastos”, avalia Yolanda Fordelone, economista do Guiabolso.

Delivery segue rota contrária

Na contramão, o volume de pessoas com gastos em aplicativos de comida (como UberEats e iFood) aumentou 51,4%. O volume de pessoas que pediram comida pelo celular saltou de de 10,5% na primeira semana de março para quase 16% na última. O impacto em proporção à renda teve uma alta marginal: de 1,09% para 1,13%, na mesma base de comparação.

Já o gasto médio sofreu uma variação irregular, caiu de R$ 93,62 para R$ 65,67, entre a primeira e a segunda semana; e voltou a subir para R$ 90,73 na última.

“Nesse segmento, pesou o fator medo. Mais pessoas passaram a pedir, o que é natural, porque há mais gente em casa, mas o valor médio diminuiu pela preocupação em economizar e dúvidas sobre a manutenção da renda”, explica Fordelone.

Outro número que chama a atenção é o aumento de 37,7% no gasto médio em supermercado, entre a segunda e a terceira semana de março, de R$ 240 para R$ 330 por pessoa. Foi esse justamente o período em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou pandemia mundial de COVID-19.

Já o gasto médio com bares e restaurantes teve retração de 13% em março, de R$ 225 na primeira semana para R$ 194 na última. Nesse segmento, o número de consumidores caiu praticamente pela metade, e o impacto em relação à renda recuou de 3,3% para 2,4%.

Nos próximos dias, segundo Fordelone, é possível que haja uma reação dos gastos na maior parte dos segmentos, conforme as pessoas voltem ao trabalho, mas talvez não nos mesmos patamares pré-crise.

“Haverá uma mudança de hábito de consumo. As pessoas podem voltar ao trabalho, mas também perceber que conseguem economizar em aplicativos de comida e restaurante, cozinhando em casa”, diz a economista.

Fonte: CNN Brasil Business, em São Paulo

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