Com portas fechadas, comerciantes apostam em deliverys 'de tudo' e até álcool em gel como brinde
Economia e Negócios
Publicado em 26/03/2020

Doces são entregues junto com o álcool em gel 70º, tido como o ideal para matar o coronavírus, causador da Covid-19 — Foto: Arquivo pessoal

 

Ótica de Sorocaba recebe receita por WhatsApp e entrega óculos em casa para driblar isolamento por causa do coronavírus; especialista em empreendedorismo dá dicas para superar esse momento.

Pela câmera do celular, a supervisora Fernanda Jeniffer Braz mostra ao cliente as armações de óculos de grau para que ele escolha a sua favorita. A receita com a prescrição é mandada por WhatsApp para a ótica, que entrega o produto em domicílio com um motoboy usando máscara e luvas de látex.

Foi a forma que o estabelecimento, que tem cinco lojas em Sorocaba (SP) e unidades em outras quatro cidades, encontrou para seguir operando em tempos de coronavírus. O isolamento social está fazendo os comércios se reinventarem e, segundo especialistas, essa é a melhor forma de enfrentar a nova crise instituída pela pandemia.

 

Clientes que estão com dificuldades para conseguir óculos ou lentes por causa de óticas fechadas, são atendidos por internet — Foto: Arquivo Pessoal

Fernanda teve que baixar as portas primeiro das lojas nos shoppings e depois a quarentena atingiu as de rua, forçando com que quase 30 funcionários fossem mandados para suas casas. "São colaboradores que estão sendo profundamente afetados porque a maioria depende do comissionamento das vendas", explica a supervisora.

Criar um sistema de delivery para produtos como óculos de sol, de grau e lentes de contato foi a forma encontrada para driblar as portas fechadas. Para avisar sobre o serviço a loja está usando suas redes sociais e disparando mensagens por Whatsapp para clientes cadastrados.

"Se uma pessoa perde ou quebra seus óculos de grau, por exemplo, ela não aguenta ficar sem. A dificuldade é semelhante para quem precisa de produto para limpar lentes de contato. Quando oferecemos o serviço, acabou sendo um alivio pra muitos consumidores", relata a supervisora.

 

Compre um bolo, leve um álcool

Em 15 anos de negócio, a doceira Cátia Fumagalli e sua mãe Dircelei jamais tiveram que fechar seu estabelecimento em uma data não programada.

Dependentes das encomendas de bolos para festas e da vendas presenciais, antes da quarentena começar oficialmente as comerciantes já amargavam uma queda de 70% no faturamento.

"Mesmo trancadas em casa, as pessoas querem comer um doce e como a preocupação com a doença é crescente, quis oferecer um brinde realmente funcional e que ajuda a sociedade", conta a comerciante, que na compra de algum doce faz a entrega na casa do cliente dando junto uma bisnaguinha com álcool em gel.

Cátia comprou um grande recipiente do produto, as bisnagas, dividiu o álcool e foi à luta usando a internet para divulgar a iniciativa e seu cardápio. Em tanto tempo no negócio, a doceira pela primeira vez transformou o delivery em carro chefe da loja.

"Eu já saía vender em alguns pontos comerciais específicos onde tenho muitos clientes, mas com tudo fechado, este delivery está sendo a salvação", afirma Cátia, que ainda sente o impacto do fechamento da loja, porém tenta minimizar seus efeitos para manter a equipe de cinco funcionárias.

"Em tempos de coronavírus, não sei se as pessoas estão comprando um doce e ganhando um álcool em gel, ou comprando um álcool e ganhando um doce de brinde", brinca a doceira.

Especialista dá dicas

A coordenadora do Centro de Empreendedorismo do Centro Universitário Facens, Sophia Harbs, explica que o mercado espera um período de retração econômica além daquela causada pela crise financeira que já estava instaurada e os mais afetados deverão ser os micro e pequeno empreendedores.

"Os lucros vão ser impactados, mas as contas chegam. Num primeiro momento é preciso fazer um controle minucioso das finanças, sabendo quanto são seus custos fixos, evitando gastos desnecessários e se possível projetando para o futuro aqueles que podem ser adiados", explica.

"Estamos em uma época em que simplesmente enviar uma mensagem pelo celular já deixou de ser um deferencial porque essa tecnologia está disponível para todo mundo. O que poderá fazer a diferença agora é a empatia. Ou, em outras palavras, o que eu como vendedor ou prestador de serviço posso fazer para atender aos anseios do cliente", comenta a especialista.

Sophia afirma que a pandemia vai mudar não só os modelos de negócio, como a forma como as pessoas se enxergam. "O diferencial será a forma de atendimento e não somente o vender pelo vender. Qual o tratamento pré e pós venda que você dará para que ele prefira você numa próxima?", questiona.

Aos consumidores, a especialista afirma que o momento é de apoio aos microempreendedores, prestigiando a pequena mercearia do bairro ao hipermercado, quando possível.

"Esses pequenos fornecedores são os que possuem o menor lastro e é preciso que a sociedade também os abrace, pois estes pequenos negócios empregam muito e têm um profundo impacto na economia", conclui Sophia.

 

Por G1 Sorocaba e Jundiaí

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