Foto: Alex Cranz/Gizmodo
Semana de lançamento de três novos iPhone 11 e ainda há uma ressaca da fartura de informações sobre as novidades e não-novidades dos celulares da Apple. Sempre foi assim e parece não haver motivos para que seja diferente nos próximos anos, afinal, goste ou não, trata-se de um dos smartphones mais influentes do mercado.
Se essa influência deve se manter pelos próximos anos é uma incógnita, mas parece improvável que os aparelhos deixem os holofotes, muito embora esteja correndo atrás de seus pares. As novidades do iPhone 11 e iPhone 11 Pro são novidades apenas para quem permaneceu no ecossistema Apple – e olhe lá!
Fãs de Android ficam exasperados apontando características e recursos que já existem há meses ou até mesmo anos em smartphones concorrentes (ainda que muitas dessas funções estejam espalhadas em diferentes modelos, poucas vezes reunida tão bem num único aparelho). A crítica, porém, não é vazia: a empresa da maçã está atrasada.
O grande destaque do iPhone 11 Pro, as câmeras triplas, já aparecem em celulares Android há bastante tempo. O primeiro deles apareceu há 18 meses, quando a Huawei mostrou o P20 Pro – desde então, Galaxy S10, Note 10 e outros destaques topo de linha entraram na onda. Por mais que seja uma frase batida, preciso bater de novo na tecla de que quantidade não se traduz em qualidade (é só olhar para as dezenas de smartphones intermediários com múltiplas câmeras, mas que não têm um desempenho tão bom).
Além disso, os smartphone Pixel já mostraram que um processamento bem otimizado e alto poder de computação são mais do que suficientes para substituir uma lente extra, ficando atrás somente na versatilidade que um sensor grande angular ou com zoom óptico pode oferecer. Falando nisso, a Apple também alardeou a chegada de um modo de fotografia noturna, capaz de capturar mais detalhes e deixar fotos nítidas mesmo em ambientes escuros, mas o Pixel mandou um abraço.
Pesa em favor da Apple um histórico de competência em fotografia (demorou para que as concorrentes chegassem em uma qualidade refinada no modo retrato, que a empresa da maçã acertou a mão de primeira, por exemplo). Inclusive, talvez esse seja o único trunfo da Apple: a companhia costuma ser competente no que se propõe a fazer e, às vezes, supera a qualidade dos outros – ainda que isso venha se tornando mais raro.
Há incompetência também. Em pleno 2019 a Apple decidiu incluir um carregador rápido na caixa do iPhone 11 Pro de 18W (o iPhone 11 mais barato fica de fora dessa, e ele só contará com o velho carregador fininho de 5W). Nas concorrentes, essa prática é padrão há anos, mesmo em modelos mais baratos. Não consigo sequer considerar digerir um argumento de quem se coloque a favor da fabricante neste quesito.
Há, além disso, atrasos. Alguns mais justificáveis, outros menos. Há quem diga que a Apple está segurando algumas novidades para o modelo do ano que vem, mas, veja bem, esse argumento é repetido a cada ano. As novidades mais legais sempre ficam para o próximo ano e, se bobearem, daqui a pouco não vão conseguir alcançar.
Nesse quesito destaco a ausência de carregamento reverso, que poderia ser especialmente útil para quem mergulha no ecossistema da Apple com AirPods e Watch. Outra mudança considerável que poderia ter acontecido e já está sendo cogitada por analistas para 2020 é a adoção de um sensor de impressões digitais sob a tela para abandonar o FaceID e se livrar do notch (entalhe) na tela.
A companhia preferiu manter a biometria da face que, particularmente, sempre me foi muito conveniente. Para abrigar os sensores capazes de fazer a leitura rápida e precisa, a companhia não consegue abandonar o notch. Por outro lado, um celular quase que completamente sem bordas é sexy. Veja o Note 10, por exemplo.
O que é promissor nos novos iPhone 11
Existem adições muito bem-vindas aos novos iPhones: autonomia de bateria promissora (o iPhone XR mudou minha perspectiva sobre duração de bateria e a Apple parece ter ampliado a qualidade), o processador é superpotente e aparentemente muito capaz de lidar com toda a computação de fotografia, realidade aumentada e outras características, além do chip U1 que pode impulsionar um mercado de etiquetas de localização.
Apesar do atraso em determinados recursos, é importante pontuar que empresa costuma ter uma ótima integração entre hardware e software. Sem contar que o iOS 13, que será liberado a partir de 19 de setembro, conta com vários recursos de privacidade, possibilitando que o usuário tenha mais controle sobre seus dados pessoais.
A Apple tem fechado o seu cercadinho. Tem tido menos munição inovadora no hardware e vai apostando um software e serviços como Apple TV+, Arcade e Apple News+, na tentativa de reforçar o ecossistema e oferecer valor para os consumidores. Isso significa que os iPhone 11 e 11 Pro devem ser ruins? Longe disso. Mas significa que a companhia não está na crista da onda como ocorria há alguns anos.
Significa também que muitas das novidades interessantes dos smartphones, seja da Apple ou de outras marcas, não são essenciais. Essa época já passou – e um dos indícios é a tentativa de fabricantes emplacarem dispositivos dobráveis. Não tem muito para onde avançar – o que não é necessariamente ruim.
Cada um faz o que quiser com a sua grana, mas é evidente de que há poucos motivos para trocar de celular a cada ano. Não há espaço na lógica do mercado para alongar o período entre lançamentos (lembre-se que todas as marcas fazem lançamentos anuais, quase sempre com incrementos e poucas revoluções), mas pode haver espaço para o posicionamento – não necessariamente da Apple – de produtos mais longevos. Estamos numa era de poder de processamento incrível, baterias melhores, materiais mais resistentes, especificações astronômicas e, como o Google provou com a câmera dos Pixel, muito espaço para o software reinar.
Via GizModo