Foto: Paulo Paiva/ DP
“O forró, por si só, já é um Patrimônio Cultural Imaterial. Só não é ainda oficializado”, avalia o cantor Maciel Melo. O artista reforça o entendimento popular de que se trata de um ritmo inerente para o pernambucano. E gênero musical deu um passo nesta semana para alcançar a chancela. Isso porque teve início a primeira pesquisa sobre as Matrizes Tradicionais do Forró e Patrimônio Cultural, apresentada durante o Seminário Forró e Patrimônio Cultural, promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, de quarta a sexta-feira.
“O que motivou o registro inicialmente foi o receio da apropriação. Outros gêneros se inspiram no forró e os grandes mestres acabam ficando em segundo plano. Tendem ao esquecimento”, explicou o diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan, Hermano Queiroz. O instituto pretende observar os trabalhos já feitos e reconhecer quais são as matrizes tradicionais que cercam o gênero. As pesquisas terão como recorte as regiões Nordeste e Sudeste, além de Brasília. A escolha dos locais teve relação direta com o grande fluxo migratório de nordestinos, o que, segundo o diretor, ajudou a ampliar e fortalecer tal cultura.
De acordo com Hermano, é necessário ir além do campo de pesquisa e adotar estratégias para pedir reconhecimento e continuar fomentando a cultura, articulando-se e discutindo. “É necessário viver o que é o forró”, diz ele. A pesquisa também promoverá oficinas, discussões e conversas com os mestres, artistas reconhecidos por exaltar a cultura há mais tempo.
“Nesse período junino, cabe tudo. O Brasil é um país democrático. A única coisa que ressalto é para que seja dada a mesma importância para todos os cantores, inclusive aos que passam o ano inteiro fomentando a cultura”, afirma Maciel Melo, que intitula Luiz Gonzaga como o inventor e grande mestre do forró. “A matriz é Luiz Gonzaga. Se não fosse ele, não existia nada disso. Ele inventou o baião, o forró, os instrumentos.” Neste ano, Gonzagão completaria 107 anos.
Dona do título de Rainha do Forró e do Xaxado, a cantora Maria Inês Caetano de Oliveira também foi uma das precursoras do ritmo, ela abriu shows de Luiz Gonzaga e, junto ao marido, o sanfoneiro Abdias dos Oito Baixos, formou um grupo ainda no início dos anos 1950. Para a cantora Irah Caldeira, Marinês foi a primeira mulher a abrir portas para outras estarem onde estão hoje. “Muitos dizem que Marinês é Luiz Gonzaga de saia. Para mim, não. Ela é Marinês. Uma mulher que ousou abrir caminhos para outras. Se é difícil agora, imagina há uns cinquenta anos?”, indaga a artista.
Irah Caldeira diz que a realidade ainda é desigual em relação a questões de gênero, inclusive no cachê dos cantores quando comparado ao das cantoras. “O forró é, sim, um universo muito masculino, desde as pessoas que vão para as festas até os que se apresentam nelas. Mas hoje percebo mais equilíbrio”, avalia.
Fonte: Diário de Pernambuco / Ketherine Mariz