Que o avanço da tecnologia tem trazido muitos beneficios para o setor da saúde não é novidade, mas você sabia que especialistas estão adaptando e usando a realidade virtual em prol da saúde mental?
Os óculos de VR são mais famosos nos universos de games, cinema, marketing, engenharia e até educação, no entanto, de acordo com Juliane Verdi Haddad, psicóloga especialista em terapia cognitiva comportamental, o dispositivo tem sido uma das principais opções no tratamento de pacientes com diversos sintomas psicológicos.
Headset de realidade virtual Oculus Quest 2 Imagem: nikkimeel/Shutterstock
“Uma das fobias mais comuns é a de avião. Acredito que entre todas, ela acaba sendo uma das mais limitadoras, pois pode impedir, por exemplo, que a pessoa tenha uma promoção no emprego, ou faça uma viagem de férias com a família, por não conseguir entrar em um avião. Além disso, há outras fobias como: a de animais, a de altura, a de elevador, a social – que pode impedir a pessoa de falar em público ou até mesmo de fazer uma refeição em uma praça de alimentação, e temos ainda a fobia de procedimentos médicos, que também é muito comum”, contou a psicoterapeuta.
Juli, como prefere ser chamada, disse que disponibiliza em seu consultório uma plataforma de realidade virtual. O processo não muda em nada do que já se conhece da experiência em usar os famosos Headsets de VR, porém, no caso dos tratamentos, a técnica de exposição gradual é aplicada, assim, o paciente é exposto à situação a qual ele teme, fazendo com que aos poucos ele se acostume e aprenda a controlar suas emoções em relação ao medo ou desconforto.
Realidade virtual é o novo método para tratamento de fobias e ansiedade. Imagem: franz12 – Shutterstock
“Essa é só uma das técnicas para tratamento de fobias, e no meu caso, porque tem alguns profissionais que já expõe logo no início, faço uma exposição gradual. O paciente vivencia dentro do consultório a situação que lhe gera medo e ansiedade. Ele se vê dentro do avião e fazendo todos os passos: entrando no aeroporto, fazendo check-in, entrando na aeronave, nós vamos trabalhando passo a passo”, explicou a especialista, acrescentando que essa é uma forma de “enganar o cérebro”.
“Estamos fazendo com que o cérebro dessa pessoa tenha uma imersão naquela situação, se acostume com aquelas cenas e vá se dessensibilizando, entendendo que aquilo não é ameaçador e perigoso.”
A profissional ainda ressaltou que uma das grandes vantagens da realidade virtual é facilitar o acesso dos pacientes as respectivas situações que lhe geram fobias. Se antes para enfrentar o medo a pessoa precisaria ir até um aeroporto ou realizar de fato uma viagem, ou ainda subir em algum lugar alto ou colocar-se de frente para um determinado animal, agora é possível fazer isso sem precisar sair do consultório.
Em entrevista exclusiva ao Olhar Digital, Juli destacou quais fobias são as mais tratadas por ela: em primeiro está a “fobia de avião e em segundo a fobia social, que se apresenta de várias formas; medo de falar em público, medo de comer perto das pessoas, medo de se relacionar”.
A psicoterapeuta ainda salientou que muitos estudos já mostram os benefícios do método, principalmente por facilitar a exposição ao problema e promover condições para alterar a sensação de estresse na ansiedade.
“Um estudo espanhol de Garcia Palacios feito em 2007 com pacientes que sofriam de fobias específicas (avião, elevador, barata, altura, agulha) mostrou que 27% deles rejeitaram a exposição ao vivo enquanto somente 3% rejeitou a exposição por VR. Isso demonstra o quanto o paciente se sente seguro ao se expor em um ambiente controlado, ao lado de um profissional que lhe transmita confiança . Estudos feitos com veteranos de guerra também mostraram o quanto eles se beneficiaram com a realidade virtual para diminuir o transtornos de estresse pós-traumático, pois é possível vivenciar situações de campos de batalha, bombas, etc. Vivenciar situações traumáticas para o alívio”, relatou.
Realidade virtual é o novo método para tratamento de fobias e ansiedade. Crédito: Mix Tape/Shutterstock
Ainda não existe um levantamento ou número oficial que já compreenda quantos profissionais da psicologia estão aderindo a alternativa, mas vale destacar que não é qualquer psicólogo ou terapeuta que pode asssociar a VR com o tratamento das fobias. “Eu trabalho com essa ferramenta há mais de 12 anos e sempre me atualizo, é necessário uma boa formação para utilizar a VR de forma adequada.”
Além disso, para aqueles que se interessaram pelo método, Juli acentuou que os valores das consultas que usam realidade virtual no tratamento não fogem do padrão de qualquer outro atendimento. “Estas consultas podem ser on-line ou presenciais, pois a plataforma de VR pode ser aplicada remotamente também”, finalizou.
Via: Olhar Digital